Pode parecer estranho, mas a maioria das pessoas realiza mal a tarefa simples e importante de manter a correta higiene bucal, existindo percentual significativo que não a realiza na quantidade certa de vezes ao dia e outros que a fazem de maneira insuficiente. A higiene bucal completa é a maneira mais barata e segura de garantir a não formação da placa bacteriana, impedindo, com este cuidado sistemático, o surgimento do tártaro e o início das cáries, que, quando não tratadas, são os motivos maiores das despesas nos consultórios dentários. Se lembrarmos que a maioria dos dentes perdidos tem como início a cárie resultante da má ou insuficiente higiene bucal, poderemos ter uma noção mais exata da importância de aprender a higienizar corretamente os dentes.
Este deveria ser um dos principais motivos para se ir ao dentista, mas como achamos que sabemos tudo, somente um pequeno percentual o faz e em função disto procede corretamente, conseguindo remover a placa bacteriana através do uso do fio dental para remoção dos resíduos alimentares, impedindo o início da formação da placa, entre os dentes e abaixo da gengiva, área não atingida na escovação normal. Esta região entre os dentes, em determinados pacientes, deve ser objeto de uso de uma escova especial, chamada de interdental, para higienizar estas áreas onde as escovas convencionais têm mais dificuldade de acesso. Depois desta é que se faz uso da escova normal, de preferência com cerdas macias, usada em ângulo de 45º sobre o colo e a margem gengival (a área mais importante a ser higienizada), com pequeno movimento circulatório lento, mantendo-a parte em contato com os dentes e parte com a gengiva, penetrando nos espaços interdentários e massageando as gengivas.
Saber manipular bem o fio ou a fita dental e a escova são técnicas, tal qual saber escrever ou desenhar e, portanto, necessitam de aprendizado e treinamento, com acompanhamento e monitoração. Os que a dominam são contemplados com economia nos gastos com dentistas, além de não gastarem o tempo necessário para longos tratamentos. Não passarão pelo descômodo da dor e do sono perdido em conseqüência desta e, logicamente não perderão festas e compromissos sociais por contratempos resultantes dos problemas odontológicos. Vantagem extra estes terão em ostentar um sorriso mais jovial e saudável, por um período mais longo de suas vidas, com fisionomia facial mais saudável, além de desfrutarem de uma digestão mais fácil e rápida, decorrente de um melhor corte e trituração dos alimentos.
A evolução do conhecimento odontológico foi tanta que hoje já se ensinam os cuidados com higiene bucal para os bebês. Na infância, todos deveríamos ter aprendido com exaustão a técnica da correta escovação, para na adolescência aprender e dominar o uso do fio dental, para na meia idade iniciar o uso das escovas interdentais e unitufo (com uma só cerda). Todos os dentistas estão aptos a bem ensinar a prática da higiene bucal e, os mais interessados neste item, montam uma sala de escovação, que alguns chamam de escovódromo. O assunto é tão sério, que foi regulamentada uma função auxiliar ao dentista, chamada de técnico em saúde bucal, que tem como finalidade principal a manutenção dos pacientes motivados na arte de bem higienizar seus dentes. Pacientes rebeldes ou com dificuldade de concentração para estas funções podem buscar dentistas direcionados à prevenção, que montam programas de monitoramento específico para cada tipo de paciente, segundo seu grau de risco em função das más condições resultantes da higiene bucal deficiente.
Existe um conjunto de procedimentos destinados a acompanhar periodicamente as pessoas interessadas em precaver-se quanto ao surgimento das diversas possibilidades de câncer da cavidade oral, que são: câncer do palato, câncer da área retromolar, região situada atrás dos dentes molares; câncer das gengivas; câncer do lábio; câncer da língua; o mais fatal entre os da cavidade oral, principalmente se em diagnóstico tardio, câncer dos ossos maxilares e o câncer da região jugal, também conhecido como câncer das bochechas. Exames periódicos (por exemplo, uma vez ao ano junto com a consulta de “check up” bucal) ajudam a identificar pequenas lesões que, se não tratadas poderão evoluir para alguma forma de câncer.Maneiras de prevenir e minimizar os riscos de surgimento do câncer bucal são iniciativas simples, embora envolvam decisões que alguns relutam em tomar. A primeira é fácil: boa higiene oral, a segunda é a partir da eliminação de possíveis irritadores, como bordos filosos nos dentes, terceiro é o tratamento imediato de todo e qualquer foco infeccioso, quarto são correções de próteses mal adaptadas ou frouxas que podem provocar feridas crônicas e por último o mais difícil: interromper o vício do fumo, que é um dos maiores causadores de câncer na cavidade oral. Como prevenção, qualquer lesão bucal que não seja diagnosticada com segurança deve ser motivo de biópsia, para tirar dúvidas e permitir tratamento em sua fase inicial, pois como em outros tipos de câncer, nesta fase existem melhores e maiores condições de serem tratados. Como tratamentos, os mais usuais são a cirurgia e as radiações. Para esta região do corpo humano, nos casos de câncer bucal, a maioria tem indicação para a cirurgia e alguns casos recebem orientação para radiação, acontecendo às vezes indicação para tratamentos envolvendo ambos. Antes da decisão por qual tratamento, o importante é que a pessoa esteja amparada por um especialista competente em diagnóstico na área.
Havendo suspeita, o melhor caminho é um diagnóstico o quanto antes, para aumentar as chances de um prognóstico positivo. Os sinais ou indícios de câncer da boca são as feridas sem cicatrização espontânea, regiões endurecidas continuamente, dificuldades de movimentação da língua, problemas para deglutir alimentos, dificuldades na fonação, aumento significativo na secreção salivar. Fora da cavidade oral, deve-se prestar atenção em nódulos endurecidos na região do pescoço. Quaisquer destas presenças separadas ou em conjunto devem servir de alerta para um exame mais criterioso e encaminhamento a especialista. Neste caso o profissional mais indicado é o patologista bucal, que por sua atuação e conhecimentos, é o especialista mais capacitado para os primeiros procedimentos em casos de suspeita de câncer. Se considerarmos que a maioria das indicações de tratamentos para os diversos tipos de câncer bucal serão por intermédio de intervenção cirúrgica, também pela necessidade de encaminhamento de exames do tipo biópsia, os cirurgiões bucomaxilo faciais, dentre os especialistas da Odontologia, são os mais acostumados e conhecedores quanto ao tipo de exames a serem solicitados e a forma correta de fazê-los.
Lugares certos para encontrar especialistas na área da cirurgia e patologia, são as faculdades de Odontologia, que sempre tem professores nestas especialidades, e na maioria dos hospitais, especificamente na traumatologia, onde, normalmente, costuma figurar um cirurgião bucomaxilo facial na equipe. Todos os bons profissionais conhecem os mais importantes cirurgiões bucais da cidade, que devem ser os procurados, tanto para diagnóstico, como para tratamento dos diversos tipos de câncer da cavidade oral.
A adição de flúor na água, num processo conhecido como fluoração, prática comum, hoje, nas médias e grandes cidades brasileiras, junto com a crescente inclusão deste nos dentifrícios bucais, constitui-se em excelente iniciativa para proteção dos dentes quanto à prevenção ao surgimento de cáries. Havendo dúvidas quanto a sua existência ou querendo-se uma dose de segurança, muitos dentistas preconizam a aplicação de flúor na forma de gel ou pastilhas, que são soluções de fluoreto de sódio a 0,2%. Outra alternativa usada com ótimos resultados para a profilaxia e manutenção dos dentes sem cáries é a aplicação de selantes, que são substâncias com a propriedade de aderirem ao esmalte do dente e que por impedirem o desenvolvimento de micro-organismos, impedem o surgimento de cáries, principalmente na infância e adolescência, que é a fase mais susceptível e de maior dificuldade de conscientização à perfeita higienização.
A existência de água fluorada deve ser motivo de questionamento dos pais junto a dentistas ou à administração da sua cidade, inclusive porque, se insistentemente questionada, poderá se motivar por sua adição. Por segurança, devem ser preferidos os cremes dentais com flúor. A aplicação tópica de flúor é iniciativa dos pais e sugestão dos dentistas conscientes, ficando a aplicação de selantes, o método mais caro e eficiente, como opção de total segurança, desde que renovada nos períodos certos, como uma verdadeira vacina contra as cáries. Sua aplicação envolve o isolamento da área que receberá a aplicação, a regularização, através de polimento dos dentes a receberem o selante, fixação deste por um líquido condicionador, normalmente um ácido do tipo fosfórico e, finalmente, a aplicação do adesivo, secagem e fixação por meio de ativação com luz fotopolimerizadora. Esta aplicação, normalmente, tem como resultante várias camadas, motivo pelo qual alguns autores referem-se ao selante sempre no plural, preferindo a denominação selantes para o procedimento e seu resultado.
A vantagem dos selantes, quando aplicados é que com raríssimas exceções, a criança ou adolescente que recebe o tratamento está livre de cáries, seus inconvenientes e custos. Como lembrete, o renovar das aplicações nos tempos certos prescritos pelo dentista é a garantia de estar livre das cáries. Nas aplicações com gel ou pastilhas, as reduções medidas em dentes cariados, entre os que optaram por este tratamento, são expressivas, principalmente se comparados a crianças que não receberam nenhum tratamento com esta finalidade. Estudos de sanitaristas e especialistas demonstram que as necessidades de flúor estão cobertas pelas quantidades aplicadas, tanto nas águas quanto nos dentifrícios, comprovando-se, através de estatísticas sua eficácia na profilaxia da cárie. Todas, em seus distintos graus, são iniciativas vantajosas se considerarmos os benefícios que trazem, não só econômicos, como de saúde e bem-estar.
Hoje se tem, como idade ideal para começar os cuidados com a prevenção à cárie, a fase do bebê, seguindo-se um acompanhamento mais rígido na infância e um controle estreito na adolescência, não se imaginando, em qualquer uma das fases, que o beneficiado vá ter iniciativa espontânea. O certo é escolher um odontopediatra como profissional mais indicado para administrar e orientar os cuidados com a saúde bucal de seus filhos. Faça sua parte, incentivando os procedimentos orientados e cobrando e controlando as providências sugeridas por este especialista. Como recompensa, pense em dentes saudáveis e sadios para o resto da vida.
Dr. Marco Antonio Franco Cançado