A
quase totalidade dos congressos de cardiologia dos tempos atuais tem debatido
um tipo de problema cardiológico que vem se tornando cada vez mais freqüente
entre seus pacientes, que são as endocardites bacterianas, decorrentes de
processos infecciosos, principalmente os que têm origem na cavidade oral e, por
conseqüência, causadores de uma proliferação de bactérias nocivas ao organismo.
O fato preocupante é que pessoas com alguma predisposição a problemas
cardiológicos, com uma simples inflamação das gengivas ou infecção de um canal
não tratado, aumentam enormemente o risco de sofrerem acidentes cardiológicos,
que poderiam ser evitados ou ter seu risco sensivelmente reduzido.
Solução
odontológica para estes problemas é simples e de fácil tratamento. Constitui-se
no tratamento de cáries, inflamações das gengivas decorrentes da presença de
tártaro ou placa bacteriana e tratamento dos canais radiculares quando
infeccionados ou em vias de vir a apresentarem problemas em decorrência de
cáries muito extensas, não tratadas no tempo certo. Solucionada a origem destes
e de algum outro problema que poderá vir a se tornar foco infeccioso, além da
correta continuidade de higienização para que os motivos que originaram estes
problemas não retornem, a probabilidade de propagação de bactérias originadas na cavidade bucal reduz-se a quase
improbabilidade de seu ressurgimento enquanto mantido o tratamento. Pacientes
que já apresentaram manifestações cardiológicas ou de infecção na cavidade
oral, devem ser, eles próprios, os grandes zeladores para que as causas destes
riscos não voltem a se manifestar.
A
partir dos trinta e cinco, quarenta anos, pessoas com algum histórico
cardiológico na família ou portadores de algum fator de risco, como, por
exemplo: hipertensão, fumo ou dependência alcoólica devem anualmente fazer um
“check up” bucal, procurando identificar dentes ou áreas das gengivas que, se
não tratadas, poderão originar um processo infeccioso e permitir que as
bactérias dele conseqüentes migrem naturalmente, com os alimentos, para a
circulação sanguínea e desta para o coração. Os cardiologistas, por estarem
preocupados com outros sintomas ou manifestações dos problemas do coração, nem
sempre tem sua atenção voltada para este fator de risco, até porque os exames
cardiológicos, de rotina não incluem exame bucal e mesmo que o fizessem, seria
difícil a identificação destes problemas por se tratar de outra área, com
patologias distintas.
Todo
paciente, com algum tipo de problema cardiológico, mesmo que de pequeno risco,
deve informá-lo a seu dentista, para sua própria segurança e para que o
profissional de posse desta informação use medicamentos e materiais apropriados
para o seu caso, como por exemplo, anestésicos sem vaso constritor. Não tendo
esta informação os dentistas usam, rotineiramente, os do tipo com vaso
constritor, para evitar ou diminuir o sangramento, ainda que pequeno, durante
seu trabalho, para comodidade do paciente. Outra razão é a prescrição de
medicamentos após as cirurgias que caso, haja contra-indicação, pode e deve ser
alterada. Não existe motivo para pacientes com algum tipo de problema
cardiológico buscar especialista na Odontologia, mas não deve o paciente a
qualquer pretexto omitir tal informação. Todos os dentistas foram preparados
durante os longos anos de estudo que tiveram, a tratar pessoas nestas
situações, inclusive para primeiro socorros que por ventura se façam
necessários. Comentado o fato, os dentistas tratarão inclusive de diminuir a
ansiedade do paciente que poderia levar a um aumento da pressão, fazendo com
que seu tratamento ande num ritmo mais pausado, sem apuros.
Um
dos males que mais afeta a humanidade nos dias de hoje, e que será a doença
mais comum do futuro próximo é o estresse. Com a massificação da mídia, o
câncer perdeu lugar para a AIDS, como motivo de maior temor e esta depois de
vinte anos já está deixando de ser notícia, permitindo antever que, em breve, o
maior medo das pessoas com relação a morte estará relacionado ao desgaste da
trepidante vida moderna, sua competitividade, o desgaste natural de viver
intensamente e os riscos de enfarto, uma das respostas a globalização. Mesmo
nos períodos de repouso, as pessoas continuam tensas e uma das conseqüências é
apertar ou ranger os dentes, ato chamado de bruxismo e bruxômano o seu portador.
Inicialmente considerado um hábito, depois entendido como um vício e hoje
estudado e tratado como doença, principalmente pelo fato de destruir próteses,
quebrar restaurações, provocar ao longo dos anos um afrouxamento dos dentes e
gerar um tipo de doença periodontal, o bruxismo pode causar ainda traumas
oclusais, perda óssea, e desgaste
dentário excessivo.
Por todos estes motivos os seus portadores,
muitas vezes sem saber, correm riscos que poderiam ser evitados, caso algum
parente percebesse esta anomalia durante seu sono e lhe relatasse. Assim
alertado, seu dentista poderá intervir antes que o mal se alastre e próteses
precisem ser trocadas. Principalmente porque o tratamento para este mal é
simples e fácil e, além de barato, não causar nenhum tipo de dor. Consiste no
uso de uma placa de relaxamento, normalmente usada no período noturno, enquanto
se dorme, sem nenhuma interferência no seu sono. Confeccionadas em acrílico
transparente a partir de uma moldagem de seus dentes, funcionam como mio-relaxantes,
impedindo o ranger dos dentes e distribuindo o apertar dos dentes para toda a
arcada, ao invés de sobre alguns poucos, como acontece sem o uso da placa. A
indicação inicial é somente para uso noturno, durante seis meses, para promover
um relaxamento da musculatura dos maxilares, que, após reposicionada, tende a
eliminar o ranger dos dentes. Portadores do problema há mais tempo e que nunca
o trataram ou que sejam, por natureza, muito tensos e agitados e que já
apresentem sintomas adiantados, com risco de perda dos dentes ou quebra de
próteses, poderão ser orientados a usar as placas de relaxamento por mais
tempo, principalmente nos seus momentos de maior estresse, como dirigir nas
grandes cidades, por exemplo.
As
vantagens do uso das placas mio-relaxantes são imediatas. Já nos primeiros dias
se constata uma melhora significativa, principalmente nos pacientes que
apresentavam dor na articulação temporomandibular. Esta tende a sumir em poucos
dias de uso da placa e o ato de morder os dentes tende a diminuir pela simples
presença de um anteparo, que, além disso estará protegendo dentes, restaurações
e próteses do ranger que não mais acontece. A pior coisa que pode acontecer
depois dos seis meses de uso da placa, caso a pessoa continue na vida agitada é
ter que, a cada período de seis meses, voltar a usar a placa. Para muitos, a
simples reposição da musculatura e mandíbula é suficiente para solucionar o
problema em definitivo.
Tendo
vida agitada e na dúvida, relate o fato a seu dentista, que por observações na
face oclusal dos seus dentes, poderá identificar desgastes por mordedura
crônica e, para fazer um diagnóstico mais completo, poderá indicar-lhe o uso de
uma placa por um período menor, como maneira de se certificar de seus sintomas
com relação a estas e outras disfunções da articulação temporomandibular, que
também podem requerer placas mio-relaxantes como alternativa de solução.
Dr. Marco Antonio Franco Cançado